Olá, variáveis!!! Esse ano eu estive sumida desde Junho, o que é muito triste, mas estou de volta e com tudo, hahah. Já tem bastante tempo que estou querendo fazer contos, um tipo de produção que eu admiro muito quem consegue desenvolver com qualidade, por isso resolvi me aventurar nesse caminho. Este é o meu primeiro de todos os tempos e fiquei bastante orgulhosa de conseguir concluí-lo, espero que vocês gostem e que tenha ficado suficientemente bom para uma primeira vez. Boa Leitura!
Uma epifania de Natal
Estou andando pelas ruas ao anoitecer, todas as luzes de final de ano já acesas, prontas para o seu show diário de brilho e esperança. Será uma noite fria e eu em meu belo sobretudo observo lindos flocos de neve caírem, perfeitos, certamente pequenas obras primas da química de seja lá qual Deus rege esse universo. Uma aura de alegria e excitação domina o ar, mas não, não faço parte desse belo cenário...
Na realidade, não está nevando, a noite não está assim fria como estaria a ponto de nevar, estou em Brasília. Bem que eu queria estar bela em um sobretudo de grife, passeando em uma praça iluminada, como em um filme hollywoodiano sobre o Natal e as coisas fantásticas que acontecem nessa época. Consigo imaginar-me chamando a Elsa de Frozen para montar um boneco de neve, comendo um ginger bread e bebendo um copo de leite daqueles que parecem deliciosos em propagandas ou desenhos, quando no fim é só leite puro, blahhhc! Só que nesta noite nas ruas da capital eu não estou fazendo nenhuma das coisas sonhadas, está mais para um verdadeiro pesadelo. Minha roupa está longe de ser digna de um grande estilista, é na verdade o mais velho moletom do meu guarda roupa, ele é bege, o cúmulo do pavor fashion. Meu rosto não foge muito do padrão de tons amedrontadores, estou pálida, mas não como a Branca de Neve a espera do príncipe encantado, estou mais para que viu um fantasma e foi isso mesmo que aconteceu.
É claro que não vi de fato um fantasma, não sei se acredito muito nessas coisas... Sou um tanto cética em tudo. A assombração que eu vi tem nome, sobrenome e está mais que viva. Meu ex, Ariel Silva. Ora, só podia ter um nome quase impossível de esquecer, impossível mesmo. Não pensem que é um ex recente que acaba de me dar um pé na bunda, não, ele é muito mais complexo do que qualquer um dos últimos da minha lista de paixões arrebatadores que logo esqueço, tanto é que ele não faz parte dessa lista. Ariel, o pequeno sereio de cabelos negro (é, a semelhança com a princesa não poderia ir muito além do nome), foi o meu primeiro amor e de um nível platônico diferenciado, nós tínhamos a reciprocidade, sabíamos muito bem que fazíamos o coração um do outro bater mais forte, mas sequer demos um beijo enquanto "ficamos juntos" por 2 anos no Ensino Fundamental. Namoro de criança, alguns diriam, andar de mãos dadas é o pico da emoção, kkkkkkkk, talvez seja isso mesmo, mas o sentimento era algo profundo, tão profundo que até hoje tal criatura mexe comigo.
Há quem diga que o moreno, alto, de cabelos cacheados, ainda habita meus pensamentos pelo simples fato de nunca termos tido algo concreto. Que no fundo é uma grande ilusão que seria facilmente solucionada com uma boa dose de realidade de casal, mas desde que mudei de escola, ainda no fundamental, não tive a chance de vê-lo novamente. Por vezes, via algo sobre pelas redes sociais de amigos em comum (sendo que ele tratou de me excluir de tudo, bem coisa de idiota), mas nada além disso. Imaginar uma reaproximação era uma grande ilusão, imagine só tentar um relacionamento.
Pois é, o meu gigantesco romance platônico teve fim a mais de 7 anos, eu me tornei outra pessoa, cresci, fiz besteiras pelo caminho, aprendi um monte, me tornei uma mulher e mesmo assim, quando bati meu carrinho de compras do supermercado, repleto de componentes para diversas boas sobremesas, no pé de um belo homem vestido em um terno talvez ainda mais atraente, não fosse o sorriso do moço tão arrebatador, eu ainda pude sentir meu coração tamborilar no ritmo de escola de samba... É claro que o sorriso eu fui ver bem depois de acalmá-lo após quase destruir aqueles bem calçados pés, bem típico da minha pessoa, fazer trabalhadas que quase sempre me levam a um grande vergonha. Boa, Ana Clara, boa... Visualizem a cena, eu com o tal moletom bege sobre o qual falei, o cabelo loiro completamente desgrenhado em um nó feito nele mesmo, pedindo mil perdões, completamente sem graça para quem ao olhar para o rosto assim que consegui tomar coragem descobri ser o meu amor de infância, pré-adolescência, que seja. A minha figura já estava acabada, depois disso o espírito passou a um estágio crítico também.
Após quase me xingar pela dor que sentia, Ariel me reconheceu e por um momento eu não soube se aquilo era algo bom ou ruim, ele ter me reconhecido naquele péssimo estado, no segundo seguinte eu descobri que era ruim, eu supostamente deveria estar irreconhecível, não? Está certo, superado o baque respirei bem fundo umas duas vezes antes de proferir qualquer palavra que não se referisse a desculpas pelo ocorrido, provavelmente pareci alguém com uma crise asmática, mesmo ele parecendo ignorar o fato. Lembram do sorriso? Pois bem, ele veio assim que me reconheceu e disse:
- Aninha?! Aninha do Marista??
Eu respondi, com um sorriso não tão genuíno, que confusão, é quase véspera de Natal e olha bem quem eu encontro:
- Sim, sou eu mesma, a Aninha... Como vai a vida, Ariel?
Ele solta a conclusão mais esperada:
- Hora! Então você também se lembra de mim!
É claro que eu lembrava, como eu poderia esquecer aquela voz que costumava me dizer tanto sobre o mundo?
Até a pergunta indecorosa nós estávamos travando o fluxo do corredor daquele supermercado lotado, o que significa que tudo isso só passou tão devagar em minha mente doente. A partir da minha resposta seca de "sim, eu me lembro", Ariel tomou as rédeas da situação, nos encaminhou até o caixa, passamos o que estava separado nos respectivos carrinhos, embora fosse quase certeza que nenhum dos dois havia concluído com louvor a missão de fazer compras. Ele deve ter percebido o meu estado alucinado, pois quando vi já estávamos em um dos milhares de Frans Cafés em Brasília. Me contou sobre como foi concluir o ensino médio na escola em que frequentamos juntos, pontuou os fatos mais relevantes sobre cada amigo daquela época, explicou sua escolha de curso de faculdade e no quanto estava feliz e realizado trabalhando em um grande escritório de advocacia, falou até sobre o sonho de se tornar juiz no futuro. De fato ele falou muito e, surpreendentemente, eu também. Comecei a me soltar, não tinha coisas tão grandiosas para falar e nem casos tão engraçados sobre a escola, afinal, passei o resto dos anos escolares em uma instituição que não fazia muito o meu perfil, por isso não tinha muitas amizades por lá, ainda assim tinha bastante o que compartilhar. Mas o que nem um de nós falou em nenhum momento daquela conversa foi sobre nós, o nós apaixonado de outrora. Não toquei no assunto por medo, talvez não tivesse nada a ver... De fato não tinha, ele possuia uma vida construída, eu não estava em situação diferente. Não éramos mais os mesmo.
Foi aquela conclusão simples de que já não eramos mais as mesmas pessoas, apesar de a afinidade parecer permanecer, que me abalou completamente naquela noite nada glamourosa de pré Natal. Depois do café nostálgico eu dirigi meu carro até o Conjunto Nacional, gosto de observar a fachada do prédio decorada e da luz pulsante, ao menos aquilo no cenário era real. Estacionei e andei até a frente da rodoviária de onde é possível observar a Torre de TV e onde eu poderia ser facilmente assaltada ou importunada pelos vagantes daquela área àquela hora do dia.
Então voltamos ao momento presente, onde ainda observo o padrão de cores mudar na Torre e penso no quanto tudo se transforma, no quanto as coisas humanas são efêmeras.... Em um instante eu era uma garotinha apaixonada pelo melhor amigo, em outra sou uma mulher que achava ainda sentir algo pelo tal garoto. Mas cá estou eu vendo que tudo passa, que nem mesmo a maior de nossas convicções as vezes é verdade. De fato meu coração disparou quando vi Ariel, mas não era mais por ele e a ideia de beijá-lo, era pelo que ele representava, todo o meu tempo de escola e as experiências das quais eu não queria me afastar. Me sinto tendo uma epifania ao bom estilo de Clarice Lispector. Percebo que o tempo passou e que de fato depois que der meia noite do dia de amanhã tudo será novo, hoje é novo, a fase é outra.
Como última lembrança do Ariel me recordo do que mais me encantava nele, era ouvi-lo falando sobre o mundo e as milhares de coisas que ele sabia sobre os mais diversos assuntos. Ele me fazia ter uma vontade de desfrutar de tudo o que vida poderia proporcionar. Uma vontade que se apagou ao longo dos anos, meu presente de Natal do Universo não foi rever o amor de escola, foi me lembrar o que de fato é importante, as verdadeiras razões para se seguir pelos dias do futuro, me apegando não mais ao que passei, mas sim ao que quero passar.
Senti o vento bater e uma libertação gigantesca no peito se fazer presente, o tempo passou, as coisas passam . E cá estou eu, sentindo a brisa sem temer o que houve, ou mesmo sem correr de um possível caso policial na atual escuridão do lugar (não tão seguro) onde me encontro. Será uma bela celebração amanhã, isso se eu ainda arranjar um mercado aberto para terminar de fazer as compras e produzir os meus mais belos doces. Ahh, tenho que correr! Dou um aceno rápido para o meu " fantasma dos natais passados" e corro para o carro.
FIM
Foi isso, pessoal. Gostaram do conto? Comentem aqui embaixo o que acharam e não se esqueçam de compartilhar, é sempre de muita ajuda.
Beijão!!! Até a próxima. 😉💓